sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

“Geração Rasca”? Sim, e com orgulho.

Nasci em 1978. Passei grande parte do meu tempo como estudante do ensino secundário em manifestações e reuniões de associações de estudantes e juventudes partidárias. E porquê? Por causa das sucessivas e falhadas políticas de educação em Portugal.
Em 1994 saímos todos à rua por causa das alterações na avaliação dos alunos. Provas Globais, Exames nacionais, de final de ciclo de estudos, regras de acesso à universidade que deram os resultados que hoje vemos. Enfim, um sem número de erros graves que acabaram por hipotecar o futuro de muitos alunos. Levámos com cargas policiais, usaram-se métodos de dispersão de multidões, e até se impediram algumas manifestações na altura. No entanto, não deixámos de nos bater, sempre acreditando na validade das nossas reivindicações.

Claro que alguns cometaram excessos, mas nenhuma jornada de luta está completa sem esses pequenos problemas. Mostrou-se um rabo à ministra? Todos concordámos com a acção. O problema é que só um teve a coragem de o fazer. E fez muito bem. Trouxe para a primeira página dos jornais a vontade que tinhamos de nos batermos por um objectivo comum.

Na altura estávamos sob o jugo do “cavaquismo”, tendo a Dra. Manuela Ferraira Leite como “testa de ferro” de um regime que se acreditava, na altura, ser o mais próximo da ditadura que tinhamos estado desde 1975 (sim, 1975. O 25 de Novembro serviu para impedir uma tomada do poder pelos apoiantes do socialismo, como alguns se devem lembrar).

Manuela Ferreira Leite, vinda da área da Economia, foi nomeada Ministra da Educação por Cavaco Silva e logo tudo mudou. Acabou o diálogo com professores e federações de alunos, foi-nos imposto um modelo de avaliação nque em nada contribuiu para o desenvolvimento da Educação...

Hoje, 4 de Dezembro de 2008, catorze anos depois das lutas estudantis daquela a que se chamou “Geração Rasca”, assistimos de novo a cargas policiais na televisão. 1600 alunos concentraram-se em Viseu, na maior concentração de alunos do país neste dia. Fecharam a escola a cadeado e tentaram impedir a entrada de quem quer que fosse numa das escolas da cidade. Resultado: carga policial, abusos, empurrões e alguns alunos agredidos. E o pior, tudo filmado pela televisão.

A Ministra da Educação deste governo Sócrates, Dra. Maria de Lurdes Rodrigues, comporta-se tal e qual a Dra. Manuela Ferreira Leite em 1994. Não ouve, não discute, não negoceia! Apenas apresenta desculpas. E maioria socialista aplaude!

A Dra. Manuela Ferreira Leite critica. E a maioria socialista refuta. E com razão! A última pessoa em Portugal que pode apresentar alternativas para a Educação é a líder social-democrata. Que moral pensa ter a Dra. Manuela Ferreira Leite para criticar o que quer que seja nas políticas educativas. Nem tão pouco pode apresentar alternativas, porque em 1994 também não as aceitou. Em alguns casos, nem sequer aceitou negociar o que quer que fosse, mesmo com elementos do próprio partido a pedir. E até o líder da JSD, na altura, se manifestou contra as acções da sua ministra. Para os que não se lembram, o presidente dos laranjinhas era Pedro Passos Coelho. E tornou-se uma figura de proa da luta estudantil.

A presidente do PSD, antes de criticar, tem de reconhecer que errou em 1994.

Mas o mais curioso em todo este processo, é que os muitos dos cidadãos portugueses que lutavam por mudanças em 1994, enquanto alunos, hoje combatem por mudanças, mas como professores. E o que podemos entender disto? Quem nasceu em 1978 tem muito azar.

Temos sido sucessivamente alvo das alterações, temos tido sempre o lugar de “cobaias” para os sucessivos governos portugueses. Em 1986 teve lugar a alteração de conteúdos programáticos do primeiro ciclo. Em 1988 foi a alteração do método de avaliação do 2º Ciclo do ensino básico. Em 1992 foi a vez de se mudar a forma de avaliar os alunos do 9º Ano e em 1994 a catástrofe completa: as Provas Globais. E aqueles que são hoje professores, têm de voltar às ruas para, de novo, combater a estupidez deste governo.

Se virmos bem, nenhuma destas alterações foi avante como tinha sido pensada. E acabámos por ser os únicos a ter estes métodos de avaliação. Mesmo com todos os erros e problemas que dai vinham.

Já chega de tanta mudança que não leva a lado nenhum. Já basta de tentativas goradas de mudar algo que até podia funcionar bem se se ouvissem mais os professores e alunos, se houvesse da parte dos vários governos de Portugal a vontade, simplesmente a vontade, de dialogar com quem está no terreno e sabe como fazer as coisas.

Nunca acreditei naqueles que, sendo líderes, nunca experimentaram aquilo que estão a liderar. Deixem as secretárias, senhores tecnocratas, e venham até às escolas. Vejam com os vossos próprios olhos, libertos das amarras dos cubículos do ministério, exactamente o que se passa nos nossos estabelecimentos de ensino.

É por tudo isto que digo: Sim, pertenço à “Geração Rasca”, mas com muito orgulho. Porque não me esqueço do que aconteceu. Não esqueço as causas pelas nos batemos na altura.

Giro giro, sabem o que era? Era os mesmos que andaram na rua há 14 anos sairem agora de novo, e reclamar o seu lugar. Afinal, nós é que fomos a verdadeira “Geração Rebelde”. (sim, nós. a malta dos morangos com açucar e séries similares não são rebeldes. são mas é parvos)

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